RESENHA #30: VOANDO POR UM LUGAR AO SOL

 

AUTOR: Haruichi Furudate
SINOPSE: Dois estudantes entram na mesma escola, no entanto, anos atrás, Hinata e Kageyama haviam se enfrentado em um torneio. O primeiro possui vigor, talento e agilidade que excedem os padrões comuns, mas não tem qualquer técnica. Enquanto isso, o outro é absurdamente talentoso e experiente, porém sua arrogância faz com que não consiga se comunicar com seus antigos companheiros. 

Agora, unidos, eles vão encontrar um caminho para evoluir e, trabalhando juntos, farão com que o atual time fracassado Karasuno volte a ser o campeão que foi um dia.

O título dessa resenha pode parecer extremamente poético, na verdade, ele não somente parece como, na minha concepção, é. Ele é pura poesia e essa é a poesia que inspira a obra de Haruichi Furudate, Haikyuu.

Voando por um lugar ao sol não é somente o objetivo de Hinata Shouyou, mas exatamente o que significa o seu nome. O protagonista da história – como todos os outros personagens -, cada um a sua maneira, busca exatamente um lugar para chamar de seu e todos eles, não somente os integrantes da escola que acompanhamos, acreditam que ele está no vôlei.

Haikyuu (排球), para quem não sabe, é a forma de dizer voleibol em japonês, embora existam as formas ocidentais que usam o recurso dos katakanas na hora da grafia (inclusive, até mesmo haikyuu quando não escrito em kanji, também é representado por katakanas), por serem palavras estrangeiras, mais especificamente, uma variação do inglês, pois foi nos Estados Unidos que o esporte surgiu pela primeira vez, antes de encantar o mundo todo.

Graças a Haikyuu, confesso que pude ver duas de grandes paixões minhas reunidas: o ato de contar histórias, como já deve ter se tornado óbvio para todos que nos seguem, e o esporte, pelo qual possuo uma paixão desde pequena, em ação. Contudo, o mais interessante é que ambos os pontos, o esporte e a história, são tão bem trabalhados que só podemos admirar o trabalho do mangaká.

Exímio trabalho, devo ressaltar.

Quantos animes e mangás de esportes conhecemos e ficaram famosos nesses últimos anos? Muitos. Mas quantos deles dão ênfase absoluta para as práticas esportivas em desenvolvimento? Poucos, pois, geralmente, o romance ou o fanservice toma mais parte e espaço, dentro da narrativa, do que o desenvolvimento físico e mental dos personagens que o praticam, amam e se esforçam.

Contudo, na obra de Furudate, definitivamente, isso não ocorre em hipótese alguma. A ênfase é realmente a melhora pessoal e profissional – ainda que alguns pareçam que vão seguir a carreira enquanto outros não – de todos, literalmente todos, os personagens em relação ao vôlei. Cada um deles possui sonhos, expectativas, experiências que são narradas e desenhadas para o leitor que, de uma maneira ou outra, acaba se encantando com o que é demonstrado.

Dessa forma, confrontamos a minha segunda paixão: o ato de contar histórias. O mangá não nos narra a trajetória somente de Hinata, somente de Kageyama – seu rival e melhor amigo, no famoso clichê de shounen – ou da Karasuno; ele narra sobre todos os personagens aliados e inimigos – no dado momento da narrativa, claro – e te faz se apaixonar por eles.

Se nos apaixonamos pelo time do Hinata e por seus esforços tanto quanto pela forma com que se doam para conseguir alcançar os seus objetivos como jogadores, vamos com toda certeza fazer o mesmo por pelo menos um dos times que vão disputar contra as figuras que nos marcam, justamente porque todos os personagens são tão complexos e tão humanos que é impossível não nos apegarmos a eles.

Pode parecer uma frase clichê e de autoajuda, mas todos somos protagonistas de nossas histórias. Por que seria diferente com os personagens que acompanhamos? Furudate faz um exímio e brilhante trabalho nesse aspecto porque todo o desenvolvimento de narrativa está intrinsecamente conectado ao crescimento, à relação entre os jogadores dentro e fora de quadra, os técnicos e os times em si, individualmente e unidos por alguma causa.

Ninguém fica de fora; essa é a parte mais interessante, visto que até os auxiliares, em algum momento, tem uma função importante na narrativa e uma história a ser contada. Não tem como não gostar e não se apaixonar por certas figuras porque elas são tão humanas quanto nós e fica impossível não querer defendê-las ou torcer para que alcancem seus sonhos, como amigos íntimos que te contam um segredo.

Ouso dizer que Haikyuu consegue nos contar tantos segredos quanto nos dar lições de vida, mostrando personagens – quase pessoas – que passam por desafios, problemas e enfrentam tudo que se passa com eles até encontrar soluções; deixam de seguir sonhos e passam a traçar novos objetivos; ou simplesmente nunca desistem e seguem o que acreditam porque são incapazes de voltar atrás até realizar o que almejaram por toda uma vida.

Não vou dizer que Haikyuu não segue o gênero narrativo que se insere, definitivamente, a obra é um shounen, ou seja, uma história voltada para garotos jovens com o objetivo de entretê-los em detrimento a outras faixas etárias, que segue diversos padrões e estereótipos marcados. Quem não conhece o protagonista efusivo e ativo que não é um gênio e precisa se esforçar para alcançar o seu rival? Quem já não ouviu falar daquele rival que é um gênio e se torna o melhor amigo do garoto esforçado?

Todos nós já conhecemos e revisitamos esses pequenos detalhes em narrativas de anos e anos atrás, no entanto, Haikyuu ainda inova no que faz e é uma surpresa maravilhosa porque embora possua a barreira do estereótipo como uma muralha de jogadores, tal como o Hinata faz com os bloqueadores, ultrapassa-o.

Se temos o protagonista efusivo que precisa praticar porque não tem o talento natural, ele aprende rápido tanto quanto o gênio. Se o seu rival é fechado e o completo oposto, ele ainda consegue fazer expressões cômicas e leves que nos faz rir e isso tudo sem parecer forçado.

O maior talento e o maior brilhantismo nessa história não estão somente no desenvolvimento do esporte – que conta muito para a narrativa e nossa percepção da trama -, mas definitivamente nos personagens que são tão palpáveis que tudo se torna possível e bem trabalhado.

Aliado a cada um deles, de qual time for, nós também somos capazes de alcançar o sol, porque somos levamos lado a lado com eles.

REFERÊNCIAS

FURUDATE, Haruichi. Haikyuu. Weekly Shounen Jump: Tokyo, 2012-atual.