AUTORA: Hazel Prior
SINOPSE: Verônica McCreedy leva uma vida solitária. Aos 85 anos, ela começa a se perguntar para quem deixará sua enorme fortuna. Até que, após ver um documentário sobre um centro de estudos de pinguins na Antártica, resolve passar uma temporada do outro lado do mundo – um local congelante e isolado, que muitos considerariam inóspito.Diante da descoberta de um parente vivo, das novas amizades feitas, da revelação de traumas passados e dos pinguins que precisam de ajuda, Verônica terá que decidir se ainda há tempo para abrir seu coração e criar laços antes que seja tarde demais.
Narrada sob diversos pontos de vista, Verônica e os pinguins é uma encantadora história sobre amadurecimento, família, encontros e reencontros.
Você já sentiu que a vida passa tão rápido que somos incapazes de aproveitar tudo? Essa sensação de piscar os olhos faz com que deixemos de apreciar coisas coisas que daríamos atenção? Verônica e os pinguins fala um pouco sobre isso, mas vai além.
Com uma protagonista fora do comum, tanto em idade quanto em temperamento, o título de Hazel acaba nos trazendo muitas lições sobre julgamento, aparências, mas, principalmente, ao intercalar narrativas entre neto e avó, conta-nos a importância do passado para construir quem somos no futuro. Inclusive, a importância do nossos pais para a nossa formação. Somada a essa ideia, Verônica e os pinguins também é uma narrativa sobre abandono e aprendizado. Nunca é tarde, nem muito cedo para conhecermos uns aos outros, inclusive, sobre a própria vida. A experiência de viver é tão particular que podemos viver intensamente uma vida inteira em um dia ou nunca ter vivido nada demais em mais de setenta anos.
Preciso confessar que a leitura de Verônica não foi impressionante, nem mesmo surpreendente. Aliás, essa até mesmo pode ter sido a intenção de Hazel. Afinal, estamos falando da vida enfadonha de uma senhora que resolve doar seu dinheiro para uma instituição. Também sinto que pode ser em parte responsabilidade da tradução, porque o texto não é tão agradável de acompanhar. Pode, é claro, ser o texto original da escritora.
Mas também pode ser Verônica, porque ela é muito fora da caixa, no final das contas. Inclusive, essa foi uma das características que mais me chamou atenção: sua personalidade, para além da sua idade, faz com que a protagonista ganhe certo destaque em relação a outras obras contemporâneas e, graças a isso, há lições até mesmo sobre as perdas, as dores e os abandonos causados pela guerra.
A temática da guerra acaba sendo comum quando tratamos sobre personagens mais velhos que viveram esse período histórico, contudo, os desdobramentos foram bem interessantes. Não digo surpreendentes, mas realmente me deixaram satisfeita, principalmente pelo fato de explorar os prisioneiros de guerra.
Outra característica da narrativa que foi muito bem desenvolvida, e por isso acredito que o enfado possa ter sido proposital, é que Hazel intercala a perspectiva de avó e neto, passado e presente. Essa divisão narrativa nos traz perspectivas de diferentes gerações, as quais possuem e possuíram seus problemas particulares, mas que, em dado momento, percebem que viver é difícil em todas as épocas e em todas as idades. Essa experiência só é diferente para cada um. Assim, a narrativa também fala sobre empatia.
Essa empatia também é destinada a causas sociais, principalmente, sobre extinção de animais, domesticação de animais silvestres e, não menos importante, poluição do ecossistema. Com uma pegada ecológica, a trama também vai explorar deficiências da própria sociedade, como a desvalorização de cientistas e projetos como o apresentado na narrativa.
Não menos importante, e um parêntese bem-vindo, Hazel também trata sobre acessibilidade digital. Verônica é uma mulher que tem mais de oitenta anos e não consegue se adequar às novas tecnologias. Sendo assim, por mais que seja clichê e não uma realidade para todas as pessoas idosas, a história também fala como é importante incluir e tornar todas as tecnologias acessíveis.
Verônica e os pinguins não é a narrativa mais agradável e interessante de se ler, mas pode suscitar diferentes e importantes reflexões sobre o nosso papel no mundo, nossa empatia com o próximo e também pensar em questões polêmicas, como o uso da maconha para fins medicinais.
A edição da Gutenberg tem uma capa bem interessante justamente por trazer diversos elementos da história. Por dentro, a diagramação segue o padrão dos títulos da editora, com uma fonte e um espaçamento confortáveis para leitura.
REFERÊNCIA
HAZEL, Prior. Verônica e os pinguins. Tradução de Elisa Nazarian. 1ª ed. São Paulo: Gutenberg, 2022.
Viciada em livros, fanática por animes e escandalosa assistindo filmes.