AUTORA: Cynthia Hand, Brodi Ashton e Jodi Meadows
SINOPSE: Inglaterra, 1834. O Rei William IV ascende ao trono e corta o financiamento que a Coroa concedia à Sociedade Real para Realocação de Espíritos Instáveis, formada havia anos pelo Rei George III (ou “George, o rei louco”, que via e conversava com fantasmas). O acontecimento, é claro, foi malvisto pelo presidente da Sociedade, criando uma inimizade entre ele e o novo rei. É nesse cenário instável que encontramos a jovem cuja história você julga conhecer. Órfã e sem nenhum tostão, Jane Eyre foi enviada à Thornfield Hall para ser tutora de uma adorável criança. Mas nossa simples Jane, que tem um péssimo gosto para homens – se liga, Sr. Rochester! –, acaba se tornando amiga de uma mulher fantasma que suportou anos de infortúnio.
Outra de suas amigas é Charlotte Brontë (sim, a autora!), que está determinada a registrar a história de Jane, mesmo que isso signifique se infiltrar na caçada-fantasma mais épica de todas. Mas o agente Alexander Blackwood, da famigerada Sociedade, está prestes a descobrir que algo perturbador ocorre em Thornfield.
Nós, fãs de histórias, sempre nos perguntamos que caminhos alternativos os escritores poderiam ter tomado. Nem sempre gostamos do casal ou do final proposto. Às vezes, queríamos mais felicidade ou tristeza (daí depende do seu humor). A questão é: nós, por vezes, reinventamos uma história na nossa cabeça. Imaginamos o que aconteceria se ela fosse diferente.
Em Minha simples Jane, Hand, Ashton e Meadows resolveram se unir e colocar isso em prática. O texto que adaptam é o clássico Jane Eyre, de Charlotte Brontë, em que temos elementos sobrenaturais, uma órfã desprezada pela família e um relacionamento que, para os padrões atuais, é bem estranho.
Não vou mentir para vocês: eu não gosto do final original de Jane Eyre. Preferia mil finais alternativos e, quando lemos para o Lendo Literatura Clássica, o nosso clube de leitura, percebemos em grupo que ninguém gostava do final. Contudo, é importante lembrar que o final é coerente com seu tempo histórico e críticas que Brontë queria transmitir. É um livro incrível, mas não tem um final bom para a personagem que gostamos.
Ao menos, foi o que sentimos lendo em grupo. Por conta disso, eu entendi porque as três escritoras resolveram se unir para reescrever essa trama. A história é boa, o enredo e os personagens são interessantes. Essa adaptação de uma história já existente é chamada de fanfic. Ou seja, uma ficção (fic) criada por um fã (fan).
Assim, como uma fanfic, Minha simples Jane supre desejos que eu tinha em relação ao final original, é bem divertida e há várias aventuras com fantasmas. Mas, ao mesmo tempo, peca em se preocupar com a historiografia e manter a personalidade de Jane intacta. A personagem que vemos na obra literária de Brontë não existe aqui (e é coerente, porque o título Jane Eyre estaria sendo escrito na trama, ou seja, a história “real” teria sido inspirada na história da personagem da “fanfic”. Confuso? Espero que não!).
O aspecto mais interessante e divertido foi o sobrenatural. Durante a trama, encontramos fantasmas muito intrigantes, como Helen. Helen, por não fazer mais parte do ciclo mundano, é capaz de trazer as impressões contemporâneas sobre a relação de Jane Eyre e Rochester. Embora seja inverossímil e incoerente, eu gostei dessa proposta.
Há também aspectos políticos e econômicos sendo trabalhados na narrativa. A política entremeia toda a trama porque o mistério tem figuras reais mescladas com a ficção, bem como tem dilemas de classes sociais (embora sejam muito poucos).
As escritoras mantêm fidelidade em alguns diálogos enquanto introduzem Charlotte Brontë como uma personagem. O que achei muito válido, considerando que Jane Eyre é uma autobiografia. Ao menos, pelo que dizem.
A edição é muito confortável de ler e a divisão dos capítulos conta com a perspectiva dos personagens relacionados, como Alexander, Jane Eyre e Charlotte. O livro, no final, acaba sendo mais sobre Charlotte, porém, Jane também brilha durante o decorrer do texto. Há uma mescla de gêneros, desde a comédia, a aventura, o mistério e o suspense, o que torna tudo muito divertido. E, claro, as desculpas iniciais fazem todo sentido, ainda bem que elas colocaram.
REFERÊNCIA
HAND, Cynthia. ASHTON, Brodi. MEADOWS, Jodi. Minha simples Jane. Tradução de Rodrigo Seabra. 1ª ed. São Paulo: Gutenberg, 2022.
Viciada em livros, fanática por animes e escandalosa assistindo filmes.