RESENHA #240: VALE A PENA AMALDIÇOAR?

AUTORA: Rachel Hawkins
SINOPSE: Aos dezenove anos, Vivienne Jones tentou curar seu coração partido como qualquer outra jovem bruxa faria: com vodca, música de sofrência, banho de espuma e uma maldição para o ex-namorado. Vivi sabe que não deveria usar a magia desse jeito, mas ela tinha certeza de que a maldição não iria causar nada mais do que uma leve indisposição.
Isso até Rhys Penhallow, destruidor de corações e ex-namorado insuportavelmente lindo, retornar à cidade, quase dez anos depois do péssimo término. O que deveria ser uma rápida viagem acaba se tornando um grande desastre para Rhys e todos ao seu redor. E, com uma onda de azar ameaçando engolir o ex, Vivi percebe que a maldição bobinha que lançou tanto tempo atrás não foi tão inofensiva assim.
De repente, a cidade está sendo atacada por brinquedos de corda assassinos, um fantasma pê da vida e um gato falante com coisas muito interessantes a dizer. Agora, Vivi e Rhys precisam ignorar a química indiscutível entre eles e se unir para salvar a cidade e quebrar a maldição do ex antes que seja tarde demais.

Como lidar com um término? Se você parar para pensar bem, essa pergunta depende de dois fatores: como foi o relacionamento; e o motivo do término. Assim, você pode definir melhor os seus sentimentos. No entanto, o ideal é que você nunca e em nenhuma hipótese faça algo que você possa vir a se arrepender.

O romance com doses de fantasia de Rachel Hawkins ensina exatamente isso. A maldição do ex se trata, acima de todas as coisas, do relacionamento entre a protagonista Vivi, uma bruxa que viveu boa parte de sua vida sem magia, e o protagonista Rhys, um bruxo que nasceu em uma família de alta casta. A diferença social, desde o sentido de prestígio familiar até de conhecimento do mundo mágico, faz com que a relação dos dois não vá para frente. Não menos importante, os dois têm personalidades opostas: ela é metódica; ele não leva nada a sério.

Assim, a autora brinca com as bases de um relacionamento estável e nos mostra que o amor talvez possa vir a superar tudo, mas nem sempre. Com um término abrupto – e, no fundo, achei que faltou uma explicação mais adequada para o rompante de uma protagonista metódica, por mais que seja adolescente na época –, Vivi acaba se deixando levar pela sua natureza mágica. Aliada a prima e uma boa dose de bebida alcóolica, ela amaldiçoa o ex-namorado. No entanto, essa maldição acaba sendo muito mais uma maldição para a própria Vivi do que de fato para Rhys. Essa virada é interessante porque nos demonstra que amaldiçoar alguém pode ser amaldiçoar a si mesmo.

O desenvolvimento do universo mágico deixa um pouco a desejar, mas tem muito potencial. Contudo, como é um romance com pitadas de fantasia, dá para entender porque a escritora opta por criá-lo dessa maneira. Somado a isso, temos uma escrita leve e fluída, é o tipo de livro que você pode ler de uma só vez e está tudo bem.

Além da diferença entre as classes sociais do mundo mágico, há elementos que dizem respeito às famílias. Enquanto a família de Vivi não segue um padrão normatizado; a de Rhys é completamente instável. Com um pai controlador, observamos como patriarcado, até no mundo mágico, pode ser nocivo. Também é possível notar, através do decorrer das páginas, que tal patriarcado vem afetando gerações e gerações.

Há muitas referências literárias, principalmente a Harry Potter, tanto nos diálogos quanto nas descrições mágicas. Também existem momentos divertidos e cenas picantes, o que traz um contrapeso no romance. É um livro feito para se divertir que explora a perspectiva dos dois protagonistas, com críticas não muito acentuadas. Infelizmente, o conflito não é muito convincente, mas as falas do personagem Rhys acabam trazendo algo de interessante ao texto.

A tradução é de Isabela Sampaio e, como faz um tempo que li, confesso que não sei dizer se há muitos erros. A capa é muito fofa e o que me chamou bastante atenção nessa obra foi a sinopse, no entanto, o que eu queria ver fica retido em apenas uma ou duas páginas. É um livro leve e divertido, um bom passatempo que te ensina a não amaldiçoar ninguém.

 

REFERÊNCIA

HAWKINS, Rachel. A maldição do ex. Tradução de Isabela Sampaio. 1ª ed. Rio de Janeiro: Globo Alt, 2022.