AUTORA: Akemi Dawn Bowman
SINOPSE: Nami Miyamoto tem uma família maravilhosa, acabou de se formar no ensino médio e está a caminho de uma festa em que toda a sua turma espera por ela ― incluindo o garoto por quem é apaixonada há anos. O único problema? Ela é assassinada antes de chegar lá.
Quando Nami acorda, descobre que está em um lugar chamado Infinito, para onde a consciência humana vai quando o corpo físico morre. Ela rapidamente percebe que Ophelia, uma assistente virtual muito utilizada pelos humanos na Terra, tomou o poder do além e agora posa de rainha, forçando os humanos à servidão do mesmo jeito que ela fora forçada a servir no mundo real. Para piorar, Ophelia está cada vez mais perto de concluir seu grande plano de erradicar a existência humana de uma vez por todas.
Quando Nami começa a trabalhar com um time de rebeldes para derrubar Ophelia e salvar as consciências humanas de seu aprisionamento, ela é forçada a enfrentar seu passado, seu futuro e tudo o que nos torna humanos de verdade. As cortes do Infinito é o primeiro livro da eletrizante série homônima que explora a tecnologia, o luto, o amor e a humanidade.
O que faz um livro de fantasia ser interessante? Muitas das vezes, os romances seguem um padrão específico, os protagonistas são genéricos e a narrativa é muito leve, sem metáforas rebuscadas ou descrições na medida certa. Os autores acabam pecando muito ou pouco em busca de surpreender seu público. Assim, escrever fantasia para jovens adultos é acertar e errar ao mesmo tempo.
As cortes do infinito segue uma fórmula proposta em animações japonesas, com um protagonista altruísta o suficiente para podermos comparar com alguma figura religiosa, como Jesus Cristo (não que seja o caso de Nami, é claro, Naruto é muito mais altruísta e capaz de converter muito mais corações). Contudo, eu posso afirmar que esse título foi a fantasia mais interessante que li desse nicho durante esse ano. Os romances de fantasia jovem adultos, por vezes, trazem críticas superficiais, porém a obra de Bowman é sedimentada em um aspecto crítico da nossa sociedade: o que significa ser humano?
Ao trazer esse questionamento relevante, a escritora brinca com o substantivo humanidade. Visto através de uma ótica positiva, a ideia de sermos “humanos” e “humanizados” partilha um espectro de “bondade”, “proximidade” e “empatia”. Mas será que isso é verdade? Esse é o levantamento crítico que permeia toda a obra, sendo assim, por vezes a autora erra com o público, mas acerta com sua premissa ao trazer esse questionamento demarcado diversas vezes.
Não obstante a isso, numa brincadeira própria da ficção científica que trata sobre robôs, o romance irá abordar o homem versus a inteligência artificial. Quem sabe mais? Quem é de fato bondoso? Quem de fato guarda rancor? Os questionamentos que cernem a literatura robótica também aparecem aqui de forma mais clara e nítida para um público mais jovem e sem experiência com o gênero.
Há também diferentes abordagens sobre questões sociais e individuais, desde a organização de resistências até da própria natureza humana. Esse é um título que vai brincar com aspectos da fantasia e da ficção científica, como Ursula Le Guin faz em muitos dos seus textos. Numa mescla dos dois e com críticas muito pertinentes, entendo que As cortes do Infinito avança e vai muito além do que outros títulos do nicho jovem adulto.
A escrita é muito simples e rápida de ser digerida, sendo assim, é necessário que o leitor preste atenção para entender a complexidade do universo, pois ele pode causar estranhamento àqueles que não estão acostumados. No entanto, por ser o primeiro volume de uma trilogia, senti falta de algumas características que espero que sejam exploradas nos próximos volumes.
Somado a tudo isso, essa obra também irá abordar a brevidade da vida e as consequências de morrer jovem, além de todas as expectativas que nos cercam em relação a nossa própria existência. É um romance que vai brincar com a vida e a morte; o espaço e o tempo; a realidade e a ficção; o homem e a máquina; a humanidade como um todo e a sua existência.
Com uma dose de diferentes gêneros, a escritora também traz romance no decorrer das páginas e, junto dele, um excelente plot twist, ainda que possa ser previsível para alguns, como foi para mim (já que estou acostumada com o gênero). Esse plot, inclusive, é capaz de empolgar o leitor para a continuação da série.
A tradução é de Ana Beatriz Omuro, no entanto, como faz um tempo que já li o título, confesso que não lembro se há muitos erros, mas não encontrei nada muito marcante em relação a isso (pois me lembraria). A capa é interessante e combina com a proposta do título, porém, diferente da maioria, eu não a acho tão bonita assim.
REFERÊNCIA
BOWMAN, Akemi Dawn. As cortes do infinito. Tradução de Ana Beatriz Omuro. 1ª ed. Rio de Janeiro: Globo Alt, 2022.
Viciada em livros, fanática por animes e escandalosa assistindo filmes.