RESENHA #195: NASCENDO DAS CHAMAS

AUTORA: Taylor Jenkins Reid
SINOPSE: Malibu, agosto de 1983. É o dia da festa anual de Nina Riva, e todos anseiam pelo cair da noite e por toda a emoção que ela promete trazer.
A pessoa menos interessada no evento é Nina, que nunca gostou de ser o centro das atenções e acabou de ter o fim do relacionamento com um tenista profissional totalmente explorado pela mídia. Talvez Hud também esteja tenso, pois precisa admitir para o irmão algo que tem mantido em segredo por tempo demais, e parece que esse é o momento. Jay está contando os minutos, pois não vê a hora de encontrar uma menina que não sai de sua cabeça. E Kit também tem seus segredos ― e convidado ― especiais.
Até a meia-noite, a festa estará completamente fora de controle. O álcool vai fluir, a música vai tocar e segredos acumulados ao longo de gerações vão voltar para assombrar todos ― até as primeiras horas do dia, quando a primeira faísca surgir e a mansão Riva for totalmente consumida pelas chamas.

Embora seja interligada, através de um personagem, com outros títulos de Jenkins, como Os sete maridos de Evelyn Hugo e Daisy Jones e The Six, Malibu Renasce é, dentre os três, o mais desconectado do universo do entretenimento – embora não totalmente, porque, diferente do cinema e da música, agora, temos alguém que trabalha como modelo de fotografias.

Assim, ainda que mude de cenário, Jenkins acaba retomando – mais uma vez – o estrelato, a fama, o universo das pessoas que “fogem do que é comum”. Contudo, a intensidade com que isso aparece é bem menor, porque não focaliza somente a personagem famosa, mas ela e seus irmãos. São os irmãos que acabam tirando o estereótipo do título.

Não sei se a opção da escritora foi por ela conhecia menos desse meio do que dos anteriores, ou pelo motivo de optar por mudar um pouco de ares, mas, ao mesmo tempo que fez muito bem, também acabou sendo o título, dentre os três, a chamar menos atenção. Então, a repetição da fórmula que aconteceu de Evelyn Hugo para Daisy não funcionou tão bem dessa vez.

No entanto, o título abriu margem para outras problemáticas do que a fama. Ainda que a fama exista como um problema, ela perde seu caráter de protagonista e passa a ser a vida de quatro crianças abandonadas pelo pai. Taylor Jenkins, como sempre, consegue criar personagens tão bem feitos que você prossegue a leitura, mesmo quando diz que vai parar, porque você sente empatia pela situação dos protagonistas.

A autora também optou pelo estilo in media res, ou seja, ela não começa pelo princípio, mas pelo meio e, pouco a pouco, como em romances policiais, vamos desbravando os acontecimentos e os fatos. Assim, a estrutura da narrativa acaba sendo muito mais comum do que a dos outros títulos, uma narração intercalada entre passado e presente, mas sem entrevistas ou documentários.

Dentre as coisas mais bem feitas e mais bonitas, encontramos os laços fraternais, muito bem encaixados e redondos. Ao mesmo tempo, tem-se a figura paterna ausente, transferindo a responsabilidade para a irmã mais velha: Nina. Nina é, sem sombra de dúvida, um exemplo de resiliência – e, por vezes, isso foi um incômodo. No entanto, graças a isso, podemos vislumbrar pautas muito importantes sendo trabalhadas pela a autora, como feminismo, aceitação do eu, busca pela própria identidade.

Ainda que divida o protagonismo com os irmãos, é a modelo que acaba brilhando como centro da narrativa. É o seu psicológico que desmiuçamos, aprendemos a lidar e confrontar no decorrer das páginas.

Não menos importante, como parte do discurso da fama de Jenkins, encontramos a festa dos Riva. O interessante é que a festa é uma metáfora para a vida dos próprios irmãos, porque todos acham que é muito mais do que é; e, às vezes, acaba sendo muito mais do que ninguém pressupôs. Sendo vista como metáfora, a festa acaba se relacionando muito a outro elemento simbólico: o fogo. O fogo, presente mesmo em Malibu como os relatos de Jenkins asseveram (e transmitem palpabilidade), é destruidor, mas também fala sobre as cinzas e a vida que recomeça.

Malibu só (re)nasce porque o fogo existe e queima tudo. Assim, a lição de Jenkins é que todo fim pode ser um nascimento, ou melhor, renascimento.

A edição apresentada pela editora Paralela tem alto relevo no título, combinando com a sensação de tocar na areia, uma sacada primorosa. A capa é muito coerente e a tradução do Alexandre Boide também está muito boa.

REFERÊNCIA

REID, Taylor Jenkins. Malibu renasce. Tradução de Alexandre Boide. 1ª ed. São Paulo: Paralela, 2021.