RESENHA #180: MEMÓRIA DE ELEFANTE

AUTORA: Agatha Christie
SINOPSE: Claire e Desmond querem se casar, mas a mãe do noivo é contra a união. Tentando descobrir algum podre sobre a jovem que leve o filho a romper o noivado, a mulher pede a ajuda de Ariadne Oliver para solucionar a causa da morte dos pais da moça. E quem melhor que Hercule Poirot para ajudar Mrs. Oliver? Os dois se juntam na investigação do caso que ocorreu anos antes ― a morte de um casal, aparentemente feliz, interpretada pela polícia como um pacto suicida ― e tentam solucionar o mistério: quem matou quem?

Agatha Christie é conhecida como a Rainha do Crime, tendo como personagem mais famoso Hercule Poirot. Ele, ao contrário do estereótipo apresentado por Sherlock Holmes, é estrangeiro, baixo e não parece em nada um detetive brilhante. Isso, claro, se considerarmos a sua aparência.

Essa insinuação aparece, mais de uma vez, na obra Elefantes nunca esquecem, através de personagens mais jovens que ouviram falar sobre as brilhantes resoluções dos crimes feitas pelo detetive. Sendo assim, a autora apresenta, como de costume, o jogo de aparências na sociedade britânica.

No entanto, esse questionamento proposital feito pelos personagens também fala muito sobre o crime em si. O fato de ser um crime antigo, como outros casos solucionados por Poirot, denota o quanto as pessoas pressupõem o que aconteceu, o que fica na memória popular e o que isso fala de quem sobreviveu.

Dessa maneira, Christie explora a percepção de memória em mais de um viés: o que é memória? O que essa memória representa na realidade? Seria ela de fato parte do real ou o que somos capazes de perceber do real? Essa memória, através de ponto de vista, é completa? E o que isso implicaria considerando um crime?

Para além desse questionamento a respeito da memória, a autora tanto foca em medicina psiquiátrica quanto em como as pessoas percebem ou recepcionam autores, principalmente, os que trabalham com crimes e mistérios (romances policiais). Por conta disso, pergunto-me o que de Ariadne Oliver, autora de romances policiais ficcional, e seus posicionamentos se parecem com os de Agatha Christie e em que medida ela critica seus fãs ao apresentá-los da forma que faz em Elefantes nunca esquecem.

Utilizando uma anedota popular para montar o título e parte da proposta do enredo, Christie também mostra como todos os crimes possuem uma motivação clara, mesmo que não pareça a princípio, além e denotar quão importante são as relações familiares. No entanto, ao mesmo tempo e ao meu ver, apresenta um dos desenvolvimentos mais previsíveis de sua carreira.

O título em questão é um dos mais famosos da autora, sendo traduzido por Luisa Geisler, que fez um excelente trabalho como tradutora dos romances que estrelam Poirot. A capa é clean e o estilo minimalista da edição casa perfeitamente com a proposta dos romances da Rainha.

REFERÊNCIA

CHRISTIE, Agatha. Elefantes nunca esquecem. Tradução de Luisa Geisler. 1ª ed. Rio de Janeiro: HarperCollins, 2021.