RESENHA #116: (REI) ARTHUR PARA CRIANÇAS

AUTOR: Howard Pyle
SINOPSE: Desde o momento em que Arthur estabelece seu direito ao trono, ao retirar de uma bigorna a espada nela cravada. O livro relata suas batalhas com o Cavaleiro Negro e com o Duque da Nortúmbria, e seus esforços para manter consigo a mágica Excalibur; seu amor por Lady Guinevere e as origens da Távola Redonda; Merlin, traído pela feiticeira Vivien, além de Morgana e a Dama do Lago; Sir Pellias, Sir Gawaine e tantos outros nobres cavaleiros (como Sir Lancelot, Sir Tristão e Sir Percival).

Como se sabe, o imaginário arturiano é vasto. Quem nunca ouviu falar da Távola Redonda? As versões são múltiplas e as mudanças são de deixar qualquer leitor despreparado ou ignorante do assunto um pouco confuso. Existe a parte da lenda em que só existia Gawaine, Guinevere, Arthur e Caliburn, o nome primevo da famosa Excalibur; mas, com o passar do tempo, tudo isso mudou.

A versão mais famosa, aliada A Espada era a Lei, produzida pela Disney, conta uma narrativa fantástica em que um jovem menino tirou uma espada de uma pedra. Essa espada era destinada àquele que seria rei e uniria todo o povo bretão, mas, como foi realmente que isso aconteceu?

Entre ficção e realidade, as versões se misturam. A Távola pertence ao século XII d.C., mas, na verdade, a lenda arturiana é muito anterior. E o fato do Rei Arthur ser traído por sua esposa, Guinevere, com um dos seus mais fiéis cavaleiros, Lancelot? Outra versão posterior, pertencente ao período do amor cortês – em que existia o enlace amoroso da dama e do vassalo, cujo nunca se concretizava de fato.

Para Howard Pyle, todas essas versões são um prato cheio de conhecimento, fantasia e cortesia (nos múltiplos sentidos cavalheirescos que essa palavra pode conter). Assim, Pyle se aproveita de toda essa mistura e faz uma tetralogia. No Brasil, a editora Zahar já publicou duas das quatro obras do autor e ilustrador: Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda e Três grandes cavaleiros da Távola Redonda.

O primeiro título trata a respeito do princípio do mito, rememorando o nascimento de Arthur e a morte de Uther Pendragon, seu pai; além de sua ascensão como rei, tirando a espada – veja bem! – de uma bigorna (e não de uma pedra). Contudo, essa espada não é a Excalibur, mas outra, já que a versão do Pyle retoma a ideia de que a espada mágica e sua bainha teriam vindo do lago, das brumas. Nessa primeira parte da tetralogia, também participarão como protagonistas Merlin, Sir Pellias e Gawaine.

O segundo, no entanto, deixará de focalizar o Rei Arthur. Dessa vez, os leitores poderão se saborear com as narrativas de Lancelot, Tristão (sim, de Tristão e Isolda, o famoso romance trágico) e também de Percival. Todos os três com um nascimento e uma infância complicados.

Tais histórias possuem como foco o público infantil e não, o infanto-juvenil, justamente por crianças mais velhas já poderem ter outros interesses e também pelo fato de serem histórias para contadores. Isso quer dizer que ler Rei Arthur e as aventuras dele e de seus amigos em voz alta melhora – e muito – a experiência!

  Com isso, o texto traz exclamações, frases de efeito intercaladas aos acontecimentos, próprias para a leitura alta antes de uma criança ir dormir, por exemplo. Além disso, o intuito de Pyle é, de certa forma, doutrinador. A cada início e final, encontramos uma lição, a qual associa as histórias arturianas a vida cotidiana. Contudo, esse doutrinamento se associa aos dogmas do autor e ilustrador, que tinha uma relação com a fé e a religião fortes desde a infância.

Tanto o primeiro livro quanto o segundo são textos leves, divertidos e sem muita descrição da arte da cavalaria, denotando – mais uma vez – a ideia do público de Pyle. Em contrapartida, as descrições da natureza, próprias de uma ode ao natural, ao naturalismo, são fantásticas – como se associam perfeitamente ao fato de ele ser, na sua formação, ilustrador. Por conta disso, o livro pode ser uma alegre surpresa para alguns, embora, para outros, não seja aquilo que eles realmente esperavam.

Ambas as edições estão bem diagramadas e as ilustrações, do próprio autor, são muito bonitas, podendo ser vistas logo na capa. No entanto, há errinhos aqui e acolá no decorrer da tradução, mas nada que seja grave. É uma obra possível de desfrutar em qualquer idade, mas a sua ênfase é o público infantil. Por isso, não espere violência, sangue e traição.

Aqui, o Rei Arthur é o mais correto dos homens. A espada é o seu símbolo. As regras de etiqueta são fundamentais. É um Rei Arthur para crianças, literalmente.

REFERÊNCIAS

PYLE, Howard. Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Edição comentada e ilustrada. Apresentação e notas Lênia Márcia Mongelli. Tradução Viven Kogut Lessa de Sá. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

 

______. Três grandes cavaleiros da Távola Redonda: Lancelot Tristão e Percival. Edição comentada e ilustrada. Apresentação e notas Lênia Márcia Mongelli. Tradução Viven Kogut Lessa de Sá. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.