DICA #05: O MUNDO DAS RESENHAS

 

Fazer uma resenha pode parecer difícil – às vezes, realmente, é bem complicado, mas isso depende também de sua conectividade com a história ou a obra. Por incrível que pareça, as resenhas mais fáceis são das histórias que não gostamos, porque sabemos exatamente o que pontuar.

Pois é, isso pode parecer extremamente confuso e contraditório, mas é verdade: nós, seres humanos, temos um talento nato para falar mal das coisas, já perceberam isso? Mas, falar sobre o que amamos também não fica para trás e não é difícil falar a respeito, só acaba sendo mais complexo falar das coisas que amamos dentro de uma obra porque, geralmente, não temos palavras para expressar.

Mas isso muda com o tempo e você é capaz de encontrar o seu caminho para o paraíso perdido das resenhas ou o bosque dos inocentes adoradores de histórias. Certo, foi bem estranho o que eu disse, mas com o tempo faz sentido. Uma resenha sobre algo que amamos demora mais a ser realizada – ao menos, para mim – porque precisamos pensar porque aquilo nos impactou tanto, então, precisamos nos conhecer para entender a história. E eu particularmente acho que muita gente não se conhece a fundo. Mas essa sessão de terapia fica para outro dia, não falaremos sobre isso hoje. Vamos falar sobre como criar resenhas.

Parece complicado, mas não é. Primeiro: você tem uma história, então, para fazer a resenha, você precisa lê-la. Já leu? Leia mesmo, tem muita gente que faz resenha de 50 tons de cinza na internet e nunca pegou o livro para ler – fazem isso com Clarice também, absurdo? É, mas verdade. Certo, você provavelmente já passou dessa fase, por isso veio ler esse texto. Segundo passo: pontue os pontos positivos e os pontos negativos.

Todos os pontos? Mas e se o livro for gigante? Bom, pontue todos. Fez isso? Ótimo. Às vezes, não falamos de todos os pontos de um livro dentro de uma resenha porque ela ficaria gigante, mas ao pontuarmos os pontos positivos e negativos de um livro, descobrimos quais pontos mexem mais com você mesmo ou com a própria narrativa. Isso fez sentido para você? Se não fez, vou explicar melhor.

Existem pontos dentro da trama que são mais importantes que outros. Por exemplo, Chapeuzinho vermelho vai para casa de sua avó e, em seu caminho, ela vê as flores. O exemplo é piegas, mas talvez funcione. Espero que funcione, na verdade. O que é importante nesse trecho? É o fato de Chapeuzinho vermelho ir à casa de sua avó ou no meio do caminho ter flores? O fato de ter flores é importante? É, se levar em conta a narrativa, mas o fato MAIS IMPORTANTE é ela ir à casa da avó.

Toda narrativa funciona dessa forma: há pontos mais importantes – aqueles que saltam aos olhos – e outros menos importantes. Geralmente, essa seleção acaba sendo pessoal. Eu, por exemplo, vou ver pontos que você não veria e, provavelmente, o contrário vai acontecer. Não se preocupe, terão pontos que todos vamos ver, ninguém vai sair como louco dessa história.

Bom, então, acredito que até aqui, você já conquistou o seu segundo passo. Qual é o terceiro? Bem, o terceiro passo é, ao escalar o que é importante, escale o que é mais importante dentro do que é importante. Isso. É confuso? Talvez. Mas seu texto de resenha não deve ser uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado, concorda?

Então, ao selecionar os pontos importantes, positivos e negativos, selecione os mais importantes entre eles. Em seguida, escreva – se possível, com a linearidade da narrativa – sobre esses pontos a partir da sua perspectiva, vendo o que acha acerto, o que acha um erro e o motivo disso.

Eu falando parece fácil, não é? Às vezes, vai ser. Às vezes, não. E sim: basicamente é assim que se faz uma resenha. Certo! Eu posso te ajudar mais um pouco, mas não tanto, porque as resenhas são particulares, elas dependem da obra, cada obra vai exigir uma resenha diferente – e a perspectiva muda a própria resenha porque as percepções de uma obra mudam de acordo com quem as vê, com as experiências que tiveram no meio do caminho ou até com as expectativas sobre a obra.

Numa tentativa melhor de ajudá-los a desenvolver uma resenha, eu gostaria que vocês se perguntassem: eu estava disposta a ler essa obra? Isso muda sua percepção. Se estava, ótimo. Se não estava, questione-se: eu li essa obra como deveria? Minha percepção foi influenciada por isso? Foi? Espere um tempo e releia de novo, melhor do que escrever sem ter certeza, afinal, muita gente culpa o livro de ser ruim quando, às vezes, a culpa é somente nossa. Se você tem certeza que não influenciou, manda texto para dentro – do Word.

A partir do momento em que você está certo de sua opinião sobre o texto, pergunte a si mesmo o que achou: da narrativa; da escrita; da crítica (se houver); do desenvolvimento; dos personagens; de todos os aspectos que você lembrar de cabeça ou na hora de escrever.

Falando pessoalmente: dependendo do livro, dependendo da resenha, eu esqueço de comentar coisas que – em outro momento – seriam a coisa mais importante para mim. Outras vezes, eu me deixo levar pelo texto (isso não necessariamente faz sua resenha ser ruim). Exemplo: eu acabei de escrever uma resenha sobre um livro do Nelson Rodrigues, eu juro que preparei um roteiro, mas acabei falando mais das críticas dele do que da escrita, que era o que eu queria fazer a priori.

É estranho? Até que é. Contudo, devemos lembrar que a resenha, muita das vezes, desperta em nós o que queríamos pensar mais, formular mais, mas só fazemos quando colocamos a mão na massa. Pode parecer estranho, mas essa sensação pode ocorrer em você também, ou eu sou uma pessoa louca – o que é plausível também.

Não se esqueça: uma resenha pode ser boa, mesmo com o livro ruim. Um livro pode ser maravilhoso, mas ter uma resenha péssima. Leve esse mantra com você, padawan.

E aí? Está pronto para colocar a mão na massa? Se não estiver, estarei disponível nos comentários abaixo para – tentar – sanar suas dúvidas.