BIOGRAFIA #22: HIROMU ARAKAWA

 

VOCÊ NÃO PODE GANHAR ALGUMA COISA SEM SACRIFICAR ALGO EM TROCA

 

Para uma menina que nasceu em uma pequena fazenda de Hokkaido, no Japão, o mundo não é tão simples e, ao mesmo tempo, é o que há de mais simplório e pacato na vida de qualquer jovem cheia de expectativas para o futuro. Uma menina que, repleta de sonhos, dividia a atenção dos pais com três irmãs mais velhas e um mais jovem, vivendo sua história baseada no trabalho e no esforço.

Esse esforço, desde pequena, ensinou a Hiromi Arakawa que, para conseguir algo, antes de tudo, deve sacrificar alguma coisa em troca. Essa é a lei da alquimia como da própria vida da autora que, crescendo em um ambiente rural, aprendeu que precisava trabalhar para comer.

Os fãs de mangás e de animes conhecem sua personalidade muito mais pela obra que produziu do que por ela em si – ou por outras histórias e ilustrações suas -, pois em 2001, o mundo recebeu de presente Hagane no Renkinjutsushi ou Fullmetal Alchemist, a trama aclamada por ser uma das melhores do mundo otaku.

Embora seja fanática por histórias feitas por George Lucas, como Star Wars e Indiana Jones, Arakawa não seguiu tão à risca a famosa Jornada do Herói de Campbell, amigo do diretor de cinema. E parte desse fanatismo pelo antigo e pelo fantástico, pelo além e pelo presente, trouxe a inspiração e o desejo de criar histórias.

Em entrevista, a autora revelou que desde muito pequena queria ser mangaká e que esse era seu sonho; inclusive, enquanto estava na escola, Arakawa desenhava em seus livros didáticos e, um tempo depois, passou a ter aulas de pintura a óleo, as quais a auxiliariam no seu futuro promissor, muito embora essas aulas só fossem uma vez por mês.

Treinava a sua arte, mas não deixava de trabalhar na fazenda. Esforçando-se sempre, conseguiu se mudar para Tóquio em 1999, onde começou a sua carreira como assistente de Hiroyuki Eto e, ao mesmo tempo, passou a publicar o seu primeiro mangá, Stray Dog, o qual ganhou um prêmio.

Arakawa publicou outra obra antes de sua principal, conhecida como Shanghai Yomakikai, um capítulo único em 2000. Em seguida, veio sua trama mais aclamada e adorada, na qual se dedicou de 2001 até 2010. Nesse meio tempo, nem mesmo engravidar e ter um filho a impediu de continuar a série.

A mangaká revelou em entrevista que, para Fullmetal, ela leu diversos livros sobre alquimia, o que foi complicado porque eles se contradiziam. No entanto, ao invés de se focar nesse aspecto, ela preferiu enfatizar a filosofia presente ao invés da prática em si – o que fazia mais sentido e trazia menos contradições. Inclusive, inspirou-se em sua própria vida na fazenda para ressaltar, com experiência, o que a teoria concluía.

E como a experiência concluía, é muito interessante perceber e ressaltar a mudança do nome da mangaká. Seu nome de batismo é Hiromi, porém, para publicar suas obras, a autora preferiu colocar Hiromu, para não ser identificada como mulher. Isso ocorreu porque, tal como outras autoras, a exemplo de Emily Brontë e, mais recentemente, J.K. Rowling, ela sabia que sofreria machismo em seu meio de trabalho e seria muito mais difícil ser aceita como mangaká, ainda mais escrevendo um shounen (uma trama voltada para jovens meninos).

Será que essas personalidades fariam sucesso, naquela época, sendo reveladas como mulheres? De toda forma, sacrificaram o seu nome para serem reconhecidas, uma troca que não deveria ser necessária e nem equivalente.

Após Hagane no Renkinjutsushi (Fullmetal), Arakawa continuou trabalhando – sem parar – e, mesmo na época em que produzia o seu mangá mais famoso, outras tramas foram publicadas como: Raiden 18, Soten no Komori, Jushin Enbu (Hero Tales). E, até os dias de hoje, continua exercendo a sua função com as tramas: Hyakusho Kizoku, Gin no Saji (Silver Spoon) e como ilustradora do maravilhoso mangá Arusuran Senki (Arslan Senki), baseado no romance de Yoshiki Tanaka, que já havia sido ilustrado antes, mas não tão magistralmente.