BIOGRAFIA #05: GEORGE R. R. MARTIN

 

O LEITOR APURADO PELO UNIVERSO ABRASIVO DE GEORGE R. R. MARTIN

 

Vento e palavras. Vento e palavras. Somos apenas humanos e os deuses nos moldaram para o amor. Esta é a nossa grande glória e a nossa grande tragédia.
GEORGE R. R. MARTIN

 

Aos fãs da sequência de livros mais conhecida de George Raymond Richard Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo, tragédia é uma palavra um tanto quanto habitual.

Norte-americano e nascido três anos após a Segunda Guerra Mundial, dois fatores que contribuíram, de certa forma, para que escrevesse acerca de política em seu aclamado Night of the Vampyres. Surpreso? Na verdade, Martin é um escritor tematicamente bastante versátil. Entre seus trabalhos vemos: o abuso de animais em Sandkings; o trabalho com as obsessões e a psiquê humana em The Pear Shaped Man e A Song of Ice and Fire; necrofilia, colonização planetária e a superficialidade das relações em The Meathouse Man; a incrível habilidade musical do autor em The Armageddon Rag, no qual ele não apenas escreve músicas para sua banda ficcional, como menciona o tempo de execução de cada melodia. Esses são alguns exemplos que nos dão a dimensão de sua dedicação aos seus trabalhos literários, incorporando as temáticas específicas aos gêneros de ficção científica, fantasia e terror.

George possui um estilo de escrita claro, porém repleto de sutilezas e de humor – o que imediatamente nos remete a outro universo: o dos quadrinhos. Tal ideia é fundamentada, pois Martin foi um leitor voraz de tais histórias. Sendo uma criança pobre, sua única maneira de conhecer outros lugares era através da imaginação, e assim o fez, bem como muitos de nós. Quando jovem, escreveu e vendeu histórias de monstros por centavos para as crianças da vizinhança. Foi além: algumas de suas cartas às editoras da Marvel foram impressas e os demais fãs entraram em contato com ele. Tempos depois, o escritor passou a escrever ficção para diversas fanzines. Ele até mesmo ganhou o Prêmio Alley de melhor fanfiction por sua história Powerman vs. The Blue Barrier, em 1965. Tá bom ou ainda quer mais?

Com 21 anos, começou a escrever contos de ficção científica profissionalmente. Com as estórias, vieram diversos prêmios literários, incluindo Nebula, Hugo e Stoker. Nessa mesma época, ele inicia e se gradua em jornalismo summa cum laude (com a maior das honras). Convocado à guerra do Vietnam, Martin declarou-se um objetor de consciência, sendo seus princípios incompatíveis com a regência do serviço militar. Entrementes, trabalhou num serviço alternativo, de 1972 a 1974, conhecido como VISTA (Volunteers in Service to America), programa voluntário que objetiva a redução da pobreza através de projetos educacionais e treinamento vocacional às classes menos privilegiadas da sociedade. Intercalou o último ano de seu serviço com a direção de alguns torneios de xadrez, esporte no qual era expert.

Tendo em vista as dificuldades financeiras de todo escritor, George consegue, com a ajuda de um conhecido, trabalhar como instrutor de inglês e jornalismo por dois anos na Universidade de Clarke, em Iowa (EUA). Após a morte de um querido amigo escritor, Tom Reamy (1935-1977), decide dedicar-se integralmente à sua carreira literária.

Em meados de 1980, após o aparente desastre de vendas de The Armageddon Rag, Martin escreve roteiros para cinco episódios do revival de Além da Imaginação, juntamente a outros grandes nomes da cultura americana do terror como Wes Craven (criador das séries A Hora do Pesadelo e Pânico), William Friedkin (diretor de O Exorcista) e Stephen King (autor de Carrie, a Estranha; À Espera de um Milagre; It – A Coisa, etc.). Aqui dá-se o primeiro pontapé de George no universo de Hollywood. Daí para frente, a vida do escritor foi feita de sucessos, um após o outro.

As histórias de Martin são descritas como cínicas, complexas e de ótimos diálogos. Seus personagens vagam ora por mundos praticamente inabitáveis, ora por cenários que se veem rumo ao caos e a mais pura forma de violência. Seus herois e anti-herois carregam em suas palavras e ações resquícios shakespearianos. Há constantes amostras das divergências morais e éticas que habitam um único personagem, tornando-os mais verossímeis aos olhos do leitor-expectador – afinal, não há algo que cause maior êxtase a qualquer estória que um bom dilema, não é mesmo?

Evocando e parafraseando uma citação do próprio autor, os escritos de George são pedras abrasivas meticulosamente lapidadas com o objetivo de amolar nossas mentes. Resta, por fim, a dúvida: quão afiada está a sua?