BIOGRAFIA #02: CORA CORALINA

 

VIVERÁS NO CORAÇÃO DOS JOVENS E NA MEMÓRIA DAS GERAÇÕES QUE HÃO DE VIR

 

 

A poesia espiritual e a imaginária estão superadas. Hoje, o poeta que fugir da realidade não terá sequer leitores, porque a poesia está indissoluvelmente ligada à realidade. Onde há vida, há poesia.
CORA CORALINA

Não há como negar que a autora, como se fosse a décima musa perdida, encanta os leitores com o dom da palavra – não pelo academicismo recorrente, mas através do cotidiano infalível que nos consome e nos inspira.

Em 1889, na data precisa de 20 de agosto, na cidade de Goiás, nasce uma mulher chamada Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que, atualmente, é conhecida a partir de seu pseudônimo: Cora Coralina. Contudo, ao contrário do que o sistema da época previa, principalmente, ao público feminino, a poetisa, desde jovem, adorava ler, muito embora tivesse frequentado somente dois anos de escola primária.

Essa falta de escolaridade não esmaeceu seu dom, pelo contrário, aos quatorze ou quinze anos, Cora já escrevia seus versos e, embora seu vocabulário fosse simples, não diminuía a sua sensibilidade e sua genialidade perante os pequenos detalhes do mundo. Os detalhes lhe eram tão importantes que, por exemplo, Cora alegou em uma entrevista que, em sua cidade, existiam muitas Anas por causa da Santa Padroeira, logo, ela não gostaria de ser mais uma. E, no ano de 1910, publicou seu primeiro conto intitulado “Tragédia na Roça”.

Entre os percalços da vida, Cora não desistiu de seus sonhos e nem de seus escritos. Em 1911, a poetisa conheceu seu marido, Cantídio, e mudou-se com ele – por causa do alvoroço despertado pelos moradores da cidade – para São Paulo. Em 1934, seu marido faleceu e, como mãe solteira, Cora teve que cuidar de seus filhos, vendendo de porta em porta desde seus livros até linguiça e banha de porco. Somente aos 67 anos, em 1956, Cora foi capaz de voltar a sua cidade natal.

A partir de então, ainda como poetisa, torna-se doceira: fazia e vendia guloseimas tão boas quanto as palavras que versava. Encantou, no decorrer da sua vida, figuras célebres da poesia e da literatura nacional, como Monteiro Lobato e Carlos Drummond de Andrade.

Como nenhuma vida é eterna, a poetisa veio a falecer em 11 de abril de 1985, em Goiânia. Contudo, a eternidade paira sobre essa grande escritora que vive em sua própria poesia: a sua literatura permanece ainda viva e presente, dessa forma, como ela mesma pensava “o poeta se eterniza em sua poesia”.

É inegável que vida e obra de Cora Coralina sejam uma e é impossível deixar de celebrar a data de hoje como um vínculo eterno com a mulher brasileira que exerceu seu talento diante da arte, da música e da literatura, como uma verdadeira Musa.

Não existiria obra sem a vida e, de mesma maneira, não existiria nem sequer o pseudônimo, ainda mais, Ana Lins não seria quem ela é, sem a poesia, sem a sua arte. E nem nós, apenas leitores, que apreciamos o seu talento e vislumbramos a sua arte como uma chance, uma oportunidade de ver o mundo a partir dos olhos de Cora Coralina.

Mesmo depois de tanta dificuldade e de tantos percalços, ela não abdicou de sua arte, de sua inspiração, nem de seu eu como poetisa. Sua obra, sua vida são o que, como é dito por ela e parafraseado no título desse texto: vive no coração dos jovens e na memória das gerações que ainda hão de vir. Ela fez de sua vida uma obra de arte e deixou para nós como legado imensurável de profunda sensibilidade.

Só podemos agradecer e nos alegrarmos com a oportunidade de conhecê-la. Essa é uma singela homenagem aos 128 anos da décima musa da arte, a primeira brasileira.