ANÁLISE #23: O FEMINISMO EM OZ

 

ANÁLISE: O Mágico de Oz
AUTOR: L. Frank Baum
 

SINOPSE: Levado aos palcos e às telas, citado e cantado, lido e relido em todo o mundo, O Mágico de Oz é a mais famosa história infantil da literatura americana. Apó a passagem de um ciclone, Dorothy e seu cachorrinho Totó vão parar na estranah Teera de Oz. Ao lado de novos amigos – o Espantalho, O Lenhador de Lata e o Leão Covarde – encaram perigos e aventuras, desafios e seus próprios medos, num alonga viagem de volta, e de autodescoberta.

Para alguns, essa é uma ideia que pode soar absurda; para outros, é uma ideia bem interessante a ser explorada, visto que – definitivamente – há algo na narrativa mais prestigiada de Baum que foge completamente a estereótipos arcaicos.

O Mágico de Oz é considerado por alguns autores, como Gardner, um conto de fadas moderno, que traz a carga anterior dos contos de fadas, ao mesmo tempo, trazendo o contemporâneo para dentro de seu texto, visto que há menos violência e muito mais fantasia, necessidades adquiridas após a existência do conceito da infância.

No entanto, há outro aspecto em Oz bem diferenciado dos demais contos de fadas: a mocinha não depende de um herói para salvá-la, ela é muito mais independente e não espera ninguém para ajudá-la a alcançar o seu objetivo.

Essa é Dorothy, em sua essência e representação da figura da própria América, ou melhor, dos Estados Unidos.

Existem leituras e leituras de O Mágico de Oz, uma das mais valorizadas é que, em Oz, encontramos uma alegoria política muito similar aos fatos decorridos alguns anos antes da publicação dessa narrativa. Contudo, há outras que situam essa obra como parte de um movimento feminista.

De fato, se formos procurar histórias infantis, ainda mais as antigas, encontraremos personagens femininas que sempre precisam da ajuda dos homens pelos quais se apaixonam, no entanto, em O Mágico de Oz é a mocinha que auxilia os personagens enquanto, ao mesmo tempo, em uma troca, também é ajudada por eles.

Não há uma força masculina superior dentro da narrativa, mas forças que se equivalem ou até se sobrepõe, pois Oz não tem poder nenhum, mas as bruxas más e boas sim. É a figura feminina que detém o poder da jornada, tanto da de Dorothy quanto das suas próprias.

Ao chegar no Mundo de Oz, Dorothy mata a bruxa má. Ela não mata por querer fazê-lo, mas sua casa esmaga a outra personagem e, dessa forma, a menina consegue a habilidade de voltar para casa, mesmo que não saiba disso.

Em seguida, uma bruxa boa a protege com um beijo – e que nenhuma criatura pode tocar nela para lhe fazer mal, nem sequer os macacos alados – e a indica o que fazer durante sua jornada.

Sem esperar que ninguém resolva os seus problemas, a menina obedece a bruxa e busca o caminho para resolver seu retorno à sua casa. No trajeto, ela é quem salva os personagens, como o Espantalho, o Lenhador e o Leão, porque – sem Dorothy – eles não teriam saído do lugar, estagnados em sua própria miséria.

Ainda que muitas das soluções da viagem sejam elaboradas e feitas por eles, os três personagens continuam a afirmar como Dorothy os salvou e os guiou para o caminho e pelo caminho através do qual poderiam realizar seus desejos.

Ao chegarem na Cidade de Esmeraldas, recebem mais uma missão – a de matar a outra bruxa – e, nessa aventura, Dorothy é quem soluciona e vence a mulher malvada, não só libertando mais um povo como também os seus amigos. Além disso, ela quem detém – outra vez – o poder mágico.

Com os sapatinhos e o chapéu, Dorothy é muito mais forte do que Oz, visto que – a partir dos objetos mágicos – ela realmente faz magia enquanto o outro é pura falácia.

Há dois poderes em contraste dentro da narrativa: o feminino e o masculino. Ao se verem confrontados, podemos perceber a diferença entre um e outro; enquanto a mulher busca – esforçadamente – as suas habilidades, o homem traz uma ideia ilusória de busca.

É interessante perceber que, somente depois da chegada de Wendy, Oz – que estava temeroso e estagnado – deseja retornar a sua casa, a conseguir fazê-lo como há tanto tempo queria, mostrando outra vez a força dessa figura feminina em particular.

Todos os personagens masculinos queriam realizar seus sonhos, mas somente depois da aparição de Dorothy é que buscam realmente fazê-lo, como se precisassem de algo ou alguém para realizar seus sonhos ao invés de simplesmente buscar realizá-los, como ela própria.

Dessa forma, acredito que no primeiro livro da saga de Oz, O Mágico de Oz, é possível sim fazer uma leitura voltada para a mulher e a força feminina, principalmente, o seu empoderamento em detrimento das figuras femininas reais, como a própria sogra do autor e as características destacadas no movimento feminista.

Não é que Baum tenha diminuído os personagens masculinos, com exceção de Oz, mas há sim nessas figuras uma falta de interesse – ou talvez uma falta de força – para concretizar e reconhecer as suas próprias necessidades, tanto é que Dorothy quer algo possível tanto quanto reconhece e se aceita como é, ao contrário de todos os demais aventureiros.

Obviamente que essa pode não ter sido uma leitura feita propositalmente por Baum, que criticava as sufragistas por causa de sua sogra, mas isso não diminui a força daquilo que ele escreveu e, motivada por textos contemporâneos sobre a força feminina e a literatura infantil ou infanto-juvenil, posso – sem sombra de dúvida – recomendar essa narrativa para meninas que não querem ser princesas a serem salvas, mas aventureiras que precisam desbravar um novo mundo para voltar ao seu doce, doce lar.

 

REFERÊNCIAS

BAUM, L. Frank. O Mágico de Oz. Apresentação Martin Gardner; prefácio Gustavo H. B. Franco; tradução Sérgio Flaksman; notas Juliana Romeiro; ilustrações W.W. Denslow. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.